"Não apareça [no Brasil] achando que é a Alemanha", disse o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, alertando os milhares de turistas estrangeiros que virão ao país para a Copa do Mundo.
Para ele, quem mais vai sofrer durante a Copa, por causa das distâncias, falta de estrutura, preços altos, insegurança e transportes inadequados são os torcedores. "Eu sei que é difícil falar sem criar uma série de problemas. Mas minha mensagem para os torcedores é de que tenham certeza de que tenham tudo organizado quando viagem ao Brasil", afirmou.
"Não apareçam no Brasil pensando que é a Alemanha, que é fácil se mover pelo país. Na Alemanha, você poderia dormir no carro. No Brasil, não", disse, se referindo à segurança. "O maior desafio será para eles [torcedores]. Não será para a imprensa, não será para os times e nem dirigentes. Será para os torcedores", avisou.
Ao explicar seu ponto de vista, Valcke cometeu um deslize ao dizer que “Não há como dormir na praia, porque é inverno”, apesar de nas sedes praianas a temperatura não ser baixa. “Garanta sua acomodação. Não há como chegar com uma mochila e começar a andar. Não existem trens, não se pode dirigir de uma sede à outra", prosseguiu.
Ele admitiu que a Fifa sabia dos limites do Brasil em relação à infraestrutura de aeroportos, por exemplo. Porém a expectativa era de que haveria tempo suficiente para que todas as reformas fossem feitas. "Sabíamos disso. Mas era em 2009 e podíamos esperar que o país tinha cinco anos para entregar o que havia sido acordado".
Valcke ressaltou que a decisão de espalhar a Copa pelo Brasil não foi ideia da Fifa. Segundo ele, foram o governo brasileiro, comandado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que fizeram questão de insistir para o evento ocorrer em doze cidades e que as seleções não poderiam ficar regionalizadas. A Fifa pedia apenas oito sedes.
"É verdade que você multiplica os riscos ao ter mais estádios. Mas tivemos uma situação em que tínhamos um governo e um presidente, que naquele momento era Lula, que te explicam que a Copa deve ser para todo o Brasil, e não apenas para poucas cidades", disse.
Para o dirigente da Fifa, o "lógico" seria dividir as 32 seleções em quatro grupos regionais. "Isso evitaria que eles tivessem de se mover para outras zonas do país", declarou Valcke, que em 2007 foi pago pela CBF como consultor para ajudar a preparar a candidatura brasileira.
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A Fifa acabou abandonando a ideia por causa da insistência da CBF e do governo de que a seleção brasileira percorresse o país em seus jogos. "Eles não queriam que o Brasil jogasse apenas em uma parte", disse. E, para o calendário da Copa funcionar, todos então teriam de viajar mais.
Valcke ainda apontou que a mudança de governo no Brasil no meio da preparação afetou o andamento do processo. "Encaramos uma eleição geral e não foi fácil sair de Luiz Inácio Lula da Silva para uma nova presidente [Dilma Rousseff]. Sempre leva algum tempo para um novo governo entrar nos assuntos e tivemos também um número elevado de mudanças de ministros", disse. Um deles, Orlando Silva, acabou caindo no ministério do Esporte por causa de suspeitas de irregularidades. Aldo Rebelo assumiu a pasta.
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