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quarta-feira, 9 de abril de 2014

Valesca Popozuda para imortal da Academia!

O professor de filosofia Antônio Kubitschek causou legal ao fazer uma prova para seus alunos do ensino médio. Em uma das perguntas, chamava Valesca Popozuda de "grande pensadora contemporânea" e pedia uma interpretação de texto a partir da "obra" da funkeira. Alvo de um verdadeiro massacre nas redes sociais, o docente mandou um beijinho no ombro e, ao mesmo tempo, deu um tapa na cara da sociedade. Arrasou.
prova Valesca Popozuda para imortal da Academia!
Ele pode até não ter percebido a dimensão que tomaria seu ato aparentemente ignorante e ridículo. A comoção se deu a partir de um raciocínio tão legítimo quanto hipócrita, que pode ser resumido na expressão que eu mesmo já usei várias vezes: a que ponto chegamos!
Pois é. O recalque passou bem pertinho. No lugar de Machado de Assis e Guimarães Rosa, letras de funk. Onde antes ouvíamos Pixinguinha e Tom Jobim, dá-lhe Valesca! É o que temos pra hoje, mermão. Ou vai me dizer que alguém ainda presta atenção no que diz Caetano Veloso e Gilberto Gil?
Kubitschek alega que pretendia levantar o debate sobre o preconceito contra a mulher. Acho que passou longe disso, mas, de lambuja, humilhou a imprensa que fez romaria até a escola em Brasília, achando que iria encontrar um debilóide semi-analfabeto dando aulas para adolescentes subnutridos. Os alunos, recentemente, haviam convidado a mídia para cobrir uma exposição de fotografias feita por eles. Ninguém foi. Touché.

Mas a escola passou a ser notícia porque o incidente serve para alimentar a suposta indignação de gente que se acha muito culta - mas que provavelmente não abriu um único livro nos últimos cinco anos e não sabe de cor sequer uma letra de Noel Rosa. Tornamo-nos um país de gente sem nenhuma cultura, além daquela que temos pra hoje. Terra arrasada.
Não chegamos a esse grau de pobreza linguística, filosófica, política e econômica de um dia para o outro. Foi uma obra de décadas. Escavamos com as mãos cada palmo desse precipício em que jogamos nossos irmãos, filhos e netos. Já houve bom gosto e inteligência neste País. Acreditem: meninos, eu vi!
O alerta do professor, mesmo que irônico ou involuntário, não precisa ser repetido. Foi, na verdade, uma piada terrível que não terá nenhuma graça na próxima vez. Não que Graciliano Ramos ou Chico Buarque passem a ser assunto nas rodinhas da cantina da escola. O fato é que, daqui a alguns anos, veremos alguém da geração de Valesca Popozuda tomando posse na Academia Brasileira de Letras. Oras. Se até o Sarney pode, por que não?

Fonte:Marco Antonio Araújo

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