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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Família viaja de carro por seis meses em mudança do Canadá para o Brasil

Anna, Zacharias, João e Caju mostram mapas que os guiaram na viagem (Foto: Tássia Lima / G1)
Uma família que vivia na América do Norte percorreu 23 mil quilômetros de carro para se mudar para o Brasil. Pai, mãe e dois filhos venderam tudo o que tinham e saíram da Ilha de Vancouver, no oeste do Canadá, no dia 28 de julho de 2014. Eles passaram seis meses viajando e atravessaram 13 países até que, no dia 2 de fevereiro, chegaram a Votorantim (SP), cidade vizinha de Sorocaba (SP), onde estão hospedados na casa de parentes.
A família começou a se desenhar em 2003, quando o instrutor de capoeira Jairo Antunes Martins, conhecido como "Caju", saiu de Sorocaba, onde vivia, e foi dar aulas na Inglaterra. Lá, ele conheceu a canadense Anna Kathrin, mestre em ioga, e a sintonia entre os dois foi imediata. Eles começaram a namorar, mas Anna voltou para o país de origem e Caju continuou ensinando capoeira pelo mundo. O casal namorou à distância por um tempo, até que, em 2006, o destino os uniu novamente. Ele recebeu uma oferta de emprego no Canadá e não pensou duas vezes para ir morar com Anna.
O tempo frio também foi a justificativa de Caju para deixar o Canadá. "Nunca me adaptei. Todo inverno eu vinha para o Brasil ou ia para o México passar uns dois meses", revela.Do casamento, nasceu João, hoje com sete anos, e a família era feliz na América do Norte. Porém, o casal sentia que a vida que levava não estava de acordo com sua filosofia. "Eu sou vegetariana, gosto muito de frutas, mas pagava cinco dólares por uma manga. O capitalismo não combina com a gente. Queremos uma vida mais natural, plantar e colher nossa própria comida, e lá, o clima frio nunca permitiria isso", explica Anna.
A vontade de se mudar para o Brasil foi amadurecendo, e surgiu a ideia de fazer a viagem de carro. "Eu achei loucura, mas a Anna disse que dirigiria", diz Caju. No final de julho, ele, a esposa, João e Zacharias - o filho mais velho de Anna, de 14 anos -, deixaram a Ilha de Vancouver em direção aos Estados Unidos. Em seguida, passaram pelo México, Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica. Ao chegarem ao Panamá, precisaram pegar uma balsa de 18 horas de travessia até a Colômbia. Depois, seguiram pelo Equador, Peru, Bolívia e Argentina, sempre ficando durante certo período nas cidades que mais gostavam.
Anna e Caju alternavam na direção do carro. No total, o grupo passava cerca de seis horas por dia viajando. Para dormir, eles procuravam hotéis ou fazendas, e, nos locais mais remotos, acampavam ou ficavam dentro do carro. Os meninos também continuaram estudando, orientados pela mãe e auxiliados por apostilas de estudos sociais, matemática, línguas e geografia.
Em 25 de janeiro, eles finalmente cruzaram a fronteira brasileira. Mas se engana quem pensa que a família se dirigiu direto a Votorantim. Eles ainda queriam mais: conhecer o sul do Brasil. Cruzaram o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, até chegarem ao estado de São Paulo. Segundo Caju, a viagem inteira foi feita sem nenhuma ajuda da tecnologia. "Viemos sem celular e sem GPS, assim parávamos para pedir informações e acabávamos interagindo e conhecendo todos os povos", conta o instrutor.

No mesmo estado, a natureza pregou mais uma peça na família. "Deu uma ventania tão forte que nossa barraca saiu voando com as crianças dentro", relembra Anna, rindo, já que ninguém se machucou.
Melhores momentos

Agora, hospedados na casa de uma tia de Caju, a família relembra as partes mais marcantes da jornada - curiosamente, situações em que enfrentaram dificuldades e problemas, mas que superaram com muita risada. "Em Baixa Califórnia, no México, ficamos acampados em uma praia. Só que a maré subiu e perdemos várias coisas, inclusive nossa câmera com as fotos que já tínhamos da viagem até ali", conta Caju.
Para o pequeno João, o lugar que mais marcou a viagem foi uma fazenda onde o grupo se hospedou, que estava com infestação de baratas. "Tinha tanta barata que a gente foi deixando uma em cada país", brinca o menino. Questionado quanto aos locais que mais gostou, ele responde com bom humor: "Os hotéis, porque era o único jeito de dormir esticado".
Só que nem sempre os hotéis eram bons. Na Nicarágua, João e o irmão mais velho, Zacharias, importunaram tanto a mãe que ela resolveu castigá-los. "Ficamos em um hotel horrível. A água acabava no meio do banho e o banheiro não tinha porta, só uma cortina. Fiz isso para punir os meninos, que ficaram me irritando o dia todo, mas acabei punindo a todos nós", ri Anna.
Ela e Caju são unânimes quanto os lugares que mais gostaram. "A Colômbia é o país mais bonito. O sul da Califórnia, nos Estados Unidos, e o Brasil são bons lugares para se viver. A Argentina é legal também, mas o povo é muito 'político', complica tudo", diz Anna.
O casal ainda destaca a presença das matas durante toda a viagem. "As pessoas dizem que a natureza está acabando, mas não foi isso que nós vimos. Vimos muito verde, muita água", afirma a canadense.
Já a Bolívia foi o país mais triste para a família. "Tem muitas crianças trabalhando e pedindo dinheiro. Parece que, quando eles aprendem a estender o braço, os pais já colocam para pedir", conta Caju.
Dentre todos os países por onde passaram, o lugar de que Zacharias gostou mais fica justamente no Brasil: "Florianópolis", pronuncia o adolescente, com um pouco de dificuldade com a língua. "Gostei das praias, e a cidade é moderna", explica.

"Queremos comprar um terreno autossustentável e plantar pés de várias árvores. Trouxemos uma muda de mangueira, e as sementes das melhores frutas, nós guardamos para plantar também", afirma Caju.
Planos para o futuro

De mudança para Peruíbe, no litoral de São Paulo, Anna e Caju pretendem abrir uma "pousada-academia", onde continuarão ensinando, respectivamente, ioga e capoeira, e, acima de tudo poderão levar a vida que sempre quiseram.
Anna, que também é doula, pretende ainda fazer partos naturais no local. Além disso, o espaço deve servir de hospedagem para quem quer relaxar. "Precisamos de um lugar silencioso para tratar das pessoas, desestressá-las", explica a canadense.
A viagem também não deve ser esquecida. Anna pretende escrever um livro para crianças sobre a aventura. "Quero falar das similaridades que nós vimos. Apesar das culturas diferentes, há mais similaridades do que diferenças entre os povos. Por exemplo: coração de mãe é tudo igual, a maioria dos pais trabalha e os animais estão sempre próximos aos humanos", filosofa.
Família em Machu Picchu, no Peru (Foto: Arquivo Pessoal)

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