WASHINGTON — O nível de liberdade para jornalistas atingiu seu nível mais baixo desde 2004. É o que afirma o relatório anual da Freedom House, publicado nesta quinta-feira, que afirma que apenas 14% da população mundial desfruta de uma imprensa com coberturas “robustas” de notícias políticas, na qual a segurança dos jornalistas está garantida, e a imprensa não está sob pressões econômicas ou legais.
O mapa da liberdade de imprensa aponta a América do Norte e a Europa como os continentes em que a imprensa é mais livre, mas nações de outras regiões, como Costa Rica, Uruguai, Gana, Israel, Japão, Austrália e Nova Zelândia também integram o topo da lista da liberdade de imprensa. O Leste Europeu, a maior parte da América Latina, metade dos países africanos e países como Índia, Coreia do Sul, Indonésia e Filipinas são listados como áreas em que a liberdade de imprensa é parcial.
No fim da lista estão nações sem liberdade de imprensa, um cenário que conta com a presença de países do noroeste da África e Europa, e grande parte das nações asiáticas. Entre os 197 países analisados no relatório, 63 foram classificados como livres, 68 como parcialmente livres, e 66 como não-livres. A liberdade de imprensa caiu em países como Líbia, Sudão do Sul, Turquia, Ucrânia e Zâmbia, que passaram a entregar a lista dos não-livres, e também nos Estados Unidos, por conta das revelações das ações de espionagem da NSA. Quedas também foram registradas na República Centro-Africana, Egito, Grécia , Montenegro, Jordânia, Quênia e Uganda. Por outro lado, países africanos como Mali, Costa do Marfim e Togo tiveram melhorias, decorrentes de diferentes avanços legais.
No topo da lista, Noruega e Suécia mantiveram os primeiros lugares, e agora recebem a companhia da Holanda. Entre os países com as piores avaliações estão a Coreia do Norte e o Turcomenistão, seguidos de Síria, Cuba, Guiné Equatorial, Irã, Bielorrússia e Eritreia. Segundo o documento, a queda de muitos Estados se deve ao desejo dos governos — especialmente nos estados autoritários e aqueles que vivem situações de polarização política — de controlar a informação, por meio da intimidação física a jornalistas, restrições ao trabalho de repórteres estrangeiros e maiores restrições aos veículos online.
E quanto maiores os protestos, maiores também são os riscos para os repórteres. O relatório menciona os ataques a jornalistas no ano passado, durante manifestações populares na Ucrânia, Turquia, Egito, Brasil, Venezuela, Tailândia, Jordânia e Uganda. Rússia e China recusaram renovar o visto de vários jornalistas estrangeiros, e o Egito prendeu trabalhadores da rede Al-Jazeera, do Catar. A China também redobrou sua censura em plataformas de internet — cenário que se repetiu no Vietnã, Jordânia, Sudão, e Zâmbia. Já a Rússia fechou sua agência de notícias RIA Novosti para substituí-la por outra mais em sintonia com as visões do Kremlin.
Brasil e Argentina melhoram, mas ainda preocupam
A análise aponta para fortes diferenças na liberdade de imprensa entre os países da América do Norte e de parte do Caribe, e os das Américas Central e do Sul. Entre os pontos positivos está a ascensão do Paraguai, que passou a integrar a lista de parcialmente livres, e “reduziu a influência política sobre os meios estatais”, após a destituição do presidente Fernando Lugo, em 2012.
Os Estados Unidos permanecem no grupo alto da lista, mas tiveram um desempenho inferior ao de 2012. O assessor do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Doug Frantz, não negou que as revelações feitas por Edward Snowden causaram um enorme dano à liberdade de imprensa no pais. Frantz aproveitou também para reiterar o pedido de que o governo venezuelano restabeleça o sinal do canal NTN24.
— Proibir o funcionamento de uma emissora de televisão é antidemocrático e não atende aos interesses da Venezuela — afirmou Frantz.
Apesar de pequenas melhoras, o relatório alerta para restrições à liberdade de jornalistas na Argentina e no Brasil. “A Argentina continua sendo um país com alta polarização no clima político e os contínuos ataques de membros do governo a jornalistas, em especial os afiliados ao grupo Clarín”. No Brasil, a Freedom House lembra que três jornalistas morreram em 2013, e muitos outros foram atacados durante os protestos populares que começaram em junho. O relatório também cita ameaças à liberdade de imprensa opor meio de ações legais contra blogueiros e companhias de internet, e o alto número de pedidos governamentais para retirada de conteúdo online.
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